ESTAMOS NUMA HORA DE VIRAGEM (em 27/12/1971)

ESTAMOS NUMA HORA DE VIRAGEM

Comunicação do Bispo Manuel Vieira Pinto ao
Conselho de Presbíteros, 27 de Dezembro de 1971.

I – Ao reunir simultaneamente os membros do Conselho de Presbíteros, cujo triénio
hoje termina e os membros do mesmo conselho recentemente eleitos para o II triénio, é minha
intenção agradecer aos membros que cessam o seu mandato a colaboração que me deram, o
espírito de Igreja que mostraram e a amizade que sempre manifestaram.
Foram três anos de experiência, de reflexão, de tentativa e de lançamento de algumas
iniciativas.
Creio que a experiência foi válida, a reflexão proveitosa, as tentativas fecundas e as
iniciativas oportunas. Dentro das iniciativas permito-me salientar:
- A animação espiritual dos missionários, através de encontros por zonas pastorais.
- A criação do Centro Catequético e do Centro de adaptação missionária
- A reforma das estruturas (particularmente os internatos).
- A valorização e a actualização dos catecumenados de adultos.
- A revisão das visitas pastorais.
- A valorização das vocações (ciclos, colégio-seminário).
- As equipas missionárias.
Estas e outras iniciativas estão em marcha e exigem de todos nós - os que terminam o
mandato e os que o iniciam - um verdadeiro compromisso. Algumas delas serão fundamentais
para o crescimento e autonomia da diocese. Refiro-me ao Centro Catequético e ao Seminário.
Missionários que não vivem os problemas do Centro Catequético e do Seminário, como
problemas fundamentais da sua actividade missionária, estão fora do ritmo vital da diocese e
ainda não entenderam os objectivos mais profundos da evangelização.
Apesar da boa vontade de todos, nem sempre o Bispo foi entendido com a urgência e
com a disponibilidade que os "novos tempos" reclamam. Assim, muitas das nossas reflexões
continuam à espera dum presbitério que as torne vida nas diversas comunidades da Diocese.
Não há dúvida que a maior força e o maior perigo está no Presbitério: um Presbitério'
livre das tentações de que já falamos noutra comunicação ao Conselho; livre da tentação da
desconfiança mútua. - A enfermidade que o torna dividido, mundo, agressivo débil e incapaz
de ser o primeiro sinal da comunhão diocesana. Devemos continuar a reflectir e a pedir a
graça de tudo superar para que o Senhor Jesus nasça em tantos que não o conhecem (um
milhão de pagãos e cerca de quinhentos mil muçulmanos na área da Diocese) e cresça em nós
e nos cristãos da Diocese (cerca de duzentos e trinta mil) a fim de que a mesma Diocese que
dia a dia edificamos apareça cada vez mais como sinal indiscutível de comunhão na verdade.
Na justiça, no amor e na liberdade própria dos filhos de Deus.
Aos presbíteros que cessam o seu mandato, o nosso reconhecimento e a certeza de que
serão no presbitério e no Povo de Deus fermentos de renovação, de união e de fidelidade ao
Espírito Santo.
II - Aos presbíteros que iniciam o seu mandato quero dizer mais umas palavras de
reflexão e de orientação.
Vindes numa hora em que o Espírito de Deus sopra com violência e exige de todos os
cristãos - mas particularmente dos seus bispos e presbíteros - uma disponibilidade sem
cálculos e sem perdas de tempo.
Estamos com efeito numa hora de viragem e por isso mesmo numa hora de desafio. Esta
viragem não é um acontecimento isolado (não acontece só nesta ou naquela diocese como
alguns serão tentados a julgar); é, sim, um acontecimento que afecta toda a Igreja e que tem,
naturalmente, nos diversos espaços e grupos humanos características próprias.
Não é ocasião de analisarmos as causas desta viragem. Digamos apenas que o Espírito
conduz a sua Igreja e sopra onde quer e como quer. Esta viragem é, em última análise, efeito
do sopro do Espírito de Deus. Procuremos antes indicar - muito embora esquematicamente -
algumas das características próprias desta viragem em Moçambique e mais concretamente em
Nampula.
1ª - A passagem duma Igreja ainda bastante constantiniana nas suas relações com os
poderes públicos, para uma Igreja mais clara e inequivocamente autónoma, dentro da própria
esfera, mais livre na sua relação com o poder público, mais sinal eficaz da liberdade cristã e
mais capaz de libertar efectivamente das muitas e diversas opressões os homens que lhe estão
confiados. Uma Igreja menos instrumento político e mais instrumento universal de salvação.
Uma Igreja menos poderosa por força dos poderosos e mais poderosa por força dos pobres.
Uma Igreja, jurídica e socialmente, menos comprometida e pastoralmente mais próxima
de todos os homens, mais acessível e mais testemunho da verdade, da justiça, do amor e da
paz.
2ª - A passagem duma Igreja ainda bastante ocidental para uma Igreja local incarnada na
cultura e grupos humanos; uma Igreja que reúna e congregue na mesma fé, na mesma
esperança e na multiforme caridade, os povos daqui e de hoje sem nada destruir dos valores
que neles haja; antes, pelo contrário, assumindo, purificando, manifestando todos os valores e
aspirações indígenas e isto não por oportunismo ou condescendência, mas por exigência da
fidelidade a Deus por quem é enviada e aos homens a quem é enviada.
3ª - A passagem duma Igreja ainda bastante clerical para uma Igreja mais Povo de Deus,
mais adulta, na sua voz e nos seus gestos; uma Igreja onde cada membro - presbítero, religioso
ou leigo - tenha consciência da sua dignidade, da sua vocação e da sua
corresponsabilidade; uma Igreja onde todos sintam que são de pleno direito Povo de Deus e
tenham, efectivamente voz para concordar, para discordar, para aconselhar, para proclamar o
Evangelho, para construir a comunidade cristã e testemunhar a fé e o Amor; uma Igreja onde
todos possam e saibam falar, onde todos possam e saibam ouvir, ultrapassando de vez aquelas
"cristandades" onde falar compete apenas aos padres o ouvir aos "seus cristãos".
4ª. A passagem duma Igreja ainda bastante ritualista, sacramentalista, para uma Igreja
mais profética e mais sacramento da salvação do homem todo; uma Igreja onde a Palavra
proclamada tenha o primado e responda inequivocamente ao Evangelho e às aspirações mais
profundas do povo que a escute; onde a palavra seja denúncia oportuna e corajosa; voz
daqueles que não têm voz; anúncio da salvação em Jesus Cristo; catequese apropriada;
celebração dos sacramentos; liturgia da comunhão; testemunha da caridade sem fronteiras;
diálogo com todos os homens.
Uma Igreja onde a profecia seja o sinal do Espírito que anima e conduz os cristãos e os
leva a falar de Deus vivo, tanto nas celebrações da fé e dos sacramentos como na convivência
fraterna e na instauração da ordem social; uma Igreja local onde os catequistas deixem de ser
simples tradutores, meros repetidores do Padre, para serem, no meio dos cristãos e do mundo,
evangelho, profecia que exprima por um lado a vida da comunidade e por outro a edifique e
atire para o testemunho missionário.
5ª - A passagem duma Igreja ainda bastante monolítica e intolerante para uma Igreja
onde o pluralismo das religiões deve ser respeitado e onde o diálogo constitua o modo normal
de convivência com os cristãos separados e com os não cristãos; uma Igreja que abandone
definitivamente o anátema e retome o espírito de serviço. Mesmo perante as religiões que
possive1mente continuam agressivas e animadas pelo espírito de domínio; uma Igreja local
que, particularmente perante os muçulmanos, apareça como sinal de reconciliação, de
colaboração fraterna, de liberdade em Jesus Cristo.
Neste capítulo ainda mal começámos; a Igreja em Nampula ainda está muito longe do
diálogo com os muçulmanos e da colaboração que o Concilio tão claramente recomenda.
6ª - A passagem duma Igreja ainda bastante paternalista, para uma Igreja promotora dos
direitos da pessoa humana e formadora de consciências responsáveis.
Até há pouco o movimento da missão era simplesmente descendente; descia de cima
para baixo; do mais forte para o mais fraco; do padre, do irmão, da irmã para o cristão, para o
catecúmeno, para o não-evangelizado; do missionário branco para o homem de cor. Falando
embora de incarnação - o Verbo se fez homem para que o homem se faça filho de Deus - as
missões quase não tinham, nem tão pouco cultivavam o movimento ascendente, ou seja, a
resposta do evangelizando com todos os seus direitos, com todos os seus valores, com toda a
sua capacidade de iniciativa, com toda a sua liberdade de consciência. Assim não admira que
na relação missionário-cristãos haja ainda muito de infantilismo, muito de massa amorfa,
muito de complexos de inferioridade, muito de consciências alienadas. Não admira, por outro
lado, que o paternalismo se manifeste tanto nas mentalidades e nas iniciativas como nas
estruturas e métodos missionários.
A Igreja, aqui e hoje, atenta ao Espírito, deve abandonar toda e qualquer forma de
paternalismo (já não falo de colonialismo), superar as estruturas e métodos que favoreçam o
infantilismo, a dependência, o servilismo, a inaptidão, o subdesenvolvimento dos cristãos para
encontrar os princípios, os métodos, as estruturas que promovam efectivamente o homem
todo, tanta no âmbito da fé, da liturgia, do apostolado, como nas diversas tarefas próprias dos
leigos no mundo. É hora duma Igreja que reconheça, promova, defenda os direitos da pessoa
humana, dos povos e das culturas; uma Igreja que nas "Missões" apareça não pela quantidade
e grandeza das estruturas, das organizações, das obras de assistência, mas pela consciência
responsável dos cristãos, tanto no compromisso com a Fé como no uso das direitos que lhes
são próprios; no reconhecimento dos direitos dos outros e na capacidade de diálogo e de autopromoção.
7ª - A passagem duma Igreja ainda bastante marcada pelo individualismo, também na
pastoral, para uma Igreja onde a comunhão apareça coma um sinal inconfundível.
Até há pouco, homens e instituições trabalhavam na mesma vinha de Deus; lutavam
pelos mesmos objectivos; viviam do mesmo e único Espírito e praticamente não se conheciam
uns aos outros; não dialogavam, não comunicavam, não se entreajudavam. Hoje o Espírito de
Deus força cada vez mais a Igreja a manifestar a comunhão que lhe é própria; a promover a
comunhão entre as diversas forças de apostolado, a organizar a comunhão nos campos
concretos de trabalho pastoral.
Daqui a tendência de muitos para o trabalho em equipas, respeitando, na entanto, o
específico de cada um dos seus membros; daqui a repugnância de muitos pelas grupos de um
só cariz e duma só força, quando esta homogeneidade favorece o isolamento e o
individualismo; daqui a sensibilidade de muitos ao bem da comunhão entre as diversas forças
que trabalham na mesma vinha de Deus e o escândalo de outros perante o individualismo dos
grupos. Devemos dizer que muitos dos presbíteros, dos religiosos, dos leigos sentem que há
uma viragem e que os últimos acontecimentos a tornaram mais acelerada e mais interpelante.
Há porém quem não dê conta das transformações profundas que o Espírito vai operando
no coração dos cristãos e atribua "aos ventos da história" ,e à rebeldia ou inovação de alguns,
tudo quanto pareça quebrar o ritmo normal da Igreja em Moçambique, das missões nas
diferentes dioceses, dos movimentos de apostolado nos diversos sectores do Povo de Deus.
Atentos aos sinais dos tempos, fiéis ao Espírito que sopra e pode num dado momento
provocar "um estampido mais forte do que um trovão", ouçamos as chamadas que nos são
feitas e procuremos encontrar na oração, no diálogo, na entreajuda, na mútua confiança, na
pobreza de espírito individual e colectivo, os caminhos de Deus, os métodos, as estruturas, os
instrumentos de pastoral e de evangelização mais aptos e mais oportunos.
III - Olhando corajosamente para a diocese que nos foi entregue por Deus (Act 20,28)
verificamos que apesar da boa vontade de todos há defeitos que urge ultrapassar e iniciativas
que urge promover, para não perdermos "este tempo de graça" e não sermos julgados amanhã
por Deus e pelos homens como servos maus.
1. Não haverá ainda entre nós demasiado espírito de congregacionismo?
Favorecer o específico de cada congregação é um dever do Bispo; mas é igualmente seu
dever coordenar e planificar todas as obras de apostolado, de tal modo que tudo e todos
concorram para o crescimento da comunhão diocesana (CD 17;33).
Teremos de continuar a promover a união, a interacção de todos os missionários da
diocese a fim de que, salvaguardadas as obras que tenham por fim o crescimento específico da
congregação ou instituto, tudo e todos concorram para o crescimento da diocese corno Povo
de Deus presidido por um bispo com a cooperação do presbitério e constantemente reunido
por ele no Evangelho e na eucaristia (CD 11).
Sem esta convergência de esforços, o bispo não poderá promover obras de carácter
diocesano, nem sentirá efectivamente a cooperação do presbitério na edificação da diocese.
Para a mentalidade e a linguagem de muitos, as missões são ainda obras deste ou daquele
instituto e a diocese é o bispo com a sua cúria e com a gente que nela trabalha. Compreendese
portanto que uma obra lançada pelo bispo é da responsabilidade do bispo e da sua cúria
diocesana, mas não de todos os missionários, sejam seculares ou religiosos, pertençam a este
ou àquele instituto.
Compreende-se ainda o interesse que um instituto pode ter pelas suas obras e o
desinteresse que pode mostrar pelas obras dos outros, embora todos trabalhem na mesma e
para a mesma diocese.
Estamos inocentes deste pecado? Não será uma das nossas fraquezas o dificultar o sopro
do Espírito e a renovação que o mesmo Espírito deseja?
2. Não haverá também entre nós demasiado espírito de conservantismo?
Para justificar a própria inércia e a incapacidade de mudança, há quem tente confundir
conservantismo com a fidelidade ao Evangelho e renovação de métodos e de estruturas, de
linguagem e de atitudes com progressismos ou inovações perigosas.
Perante as exigências da renovação que por fidelidade ao Espírito e ao povo que nos
está confiado, e com a ajuda do Conselho de Presbíteros, vimos propondo à diocese linhas de
conversão; uns têm respondido com entusiasmo e com verdadeiro espírito de colaboração;
outros têm duvidado e, na dúvida, vão adiando para melhores dias a renovação que urge fazer;
outros não têm resistido às dificuldades que as mudanças naturalmente implicam. Sentam-se
desorientados e caem frequentemente no desalento. Os relatórios das missões traduzem
bastante os diversos estados de espírito. Devemos porém continuar a renovar. A renovar o
quê?
- Primeiramente as mentalidades. Há quem pense ainda com mentalidade estacionária
em Trento; com mentalidade de algum modo colonial; com mentalidade de cruzado.
Precisamos de missionários com mentalidade de Igreja, mas de Igreja de hoje e aqui.
- Depois as atitudes, tanto na linha vertical como na horizontal. Passar duma atitude de
agressividade para uma atitude de amizade, fundada no respeito e no diálogo. Há, na verdade,
muita atitude agressiva, tanto na linha vertical (superiores-súbditos; súbdítos-superiores)
como na linha horizontal. É evidente que as atitudes agressivas geram estados de violência e
os estados de violência geram o medo. Não será o medo uma dominante da nossa
convivência, tanto entre nós, como com os cristãos e os cristãos connosco?
Precisamos urgentemente dum clima de amizade para construirmos verdadeiras
comunidades cristãs, células vivas da comunidade diocesana.
- Finalmente renovação dos métodos e estruturas. Não é fácil encontrar, de um dia para
o outro, os métodos mais apropriados de evangelização e de pastoral, nem as estruturas mais
adequadas. Uma coisa porém é certa: muitos dos nossos métodos e estruturas estão em causa;
alguns dos nossos métodos e estruturas estão irrevogavelmente ultrapassados e principiam a
ser no contexto da actividade missionária um contra-sinal, um contra-testemunho talvez
mesmo com escândalo.
Com a ajuda do Espírito, com a colaboração de todos, e dum modo especial com a
cooperação deste conselho e do Conselho de Pastoral, deveremos encontrar pouco a pouco
novos métodos, novas estruturas de evangelização e de pastoral.
3. Não haverá também entre nós demasiada preocupação com as obras?
Não poderemos certamente prescindir totalmente das obras, sejam elas de carácter
económico, escolar, assistencial, hospitalar, promocional ou catequético e apostólico.
Mas poderemos continuar a desenvolver, a organizar, a criar obras que além de gastar os
missionários em tarefas de sua natureza subsidiária, comprometem seriamente os frutos da
evangelização e da pastoral e principiam a pôr em causa o nosso testemunho de missionários
enviados por Deus para anunciar a Boa Nova e para congregar na liberdade dos filhos de
Deus o povo que anda disperso? Poderão as obras dos internatos, dos hospitais, dos postos
sanitários continuar a justificar a estrutura actual das machambas, a mão-de-obra dos internatos,
a entrega dum padre às questões económicas da missão?
Poderão as escolas continuar a absorver a maior parte da actividade dos missionários e
uma boa parte dos bens da missão, sob o pretexto de que a escola é um ponto de arranque para
a evangelização, um factor primário de promoção? Poderemos continuar a aumentar as obras
na sede da missão, quando a população das mesmas é quase toda infantil e na maioria dos
casos pode absorver o trabalho das irmãs, do irmão, do padre, com grave prejuízo para as
populações adultas que normalmente vivem em zonas distantes?
Não teremos de pensar em obras que possam servir mais imediata e eficazmente todos
os cristãos e toda a população da área da missão? Não teremos de fazer uma viragem no
sistema económico das missões, procurando que a missão esteja ao serviço de todos,
promovendo-os verdadeiramente no campo económico, transformando as machambas em
cooperativas, comprometendo pouco a pouco os cristãos na gerência económica da Missão?
Estas considerações foram escritas ao correr da pena. São expressão de muitas e grandes
interrogações que me preocupam e vos preocupam certamente. Não queremos atingir seja
quem for, nem chamar a juízo esta ou aquela actividade missionária. Queremos sim reflectir
em voz alta e fazer reflectir. Precisamos de reflectir sob pena de trairmos o Espírito. Não é
possível porém reflectir em espírito de Igreja sem liberdade interior e sem abertura. Peçamos
a liberdade ao Espírito e a abertura que só Ele pode dar.
Conto convosco. Sois membros do Conselho de Presbíteros, não para afirmar a vossa
presença; não para defender o instituto a que pertenceis; não para conseguir mais apoios às
missões que vos estão confiadas; não para falar ou para estar calado esterilmente. Sois
membros do conselho para colaborar eficazmente com o Bispo da Diocese na edificação da
Igreja e no testemunho que a mesma Igreja deve dar hoje e aqui.
Não esqueçais: vindes numa hora de desafio. Seremos capazes de responder a tempo e
bem? A viragem de que falamos far-se-á ou connosco, ou sem nós, ou contra nós. Seremos
capazes de assumir consciente e decididamente as forças mais profundas desta viragem de tal
modo que sejamos nós mesmos a promovê-1a? Estaremos nós tão agarrados às nossas
posições, às nossas obras que nos condenemos a nós mesmos a ser ultrapassados pelos
acontecimentos, a ser acusados pela história? Damo-nos conta de que as populações de
Moçambique estão rapidamente a tomar posições talvez à margem da Igreja? -
O triénio que vos é dado como membros do Conselho de Presbíteros é muito decisivo.
Esperemos no Senhor e estejamos atentos e disponíveis. No panorama da diocese há muitos
sinais positivos, muito esforço já realizado e muita boa vontade dos missionários. Damos
graças a Deus por tudo e por todos.
Nampula, 27 de Dezembro de 1971
Festa de S. João Evangelista
O vosso Bispo:
+ Manuel